Arrancando folhas da antiga cactácea
Observo seus líquidos esbranquiçados desenharem todo seu corpo
Um sopro de vida que chega
Ao solo pedregoso contido no vasinho de barro
De certa forma, invejo a espinhosa cactácea
Por conseguir chorar como eu tive medo
Por sagrar como eu deveria sangrar
Contemplo covardemente o cair do que resta da chuva
O derramar de sua existência tão pequena e temporária quanto eu
Sobre o que resta de mim...
Que venha, com a àgua, a vida
Para meu labirinto ressecado e quebradiço
Enquanto aguardo aqui, de baixo do telhadinho
Vendo até mesmo a cactácea festejar a chuva
Fazendo nascer novas folhas
Para consolar a ausência das que tirei fora
Aqui, percebo que não faz mais sentido esperar
Pois de verde, só tenho meus olhos
E de vermelho, só tenho cor dos cabelos